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Prática de Yoga

Pranayama

A palavra ayama significa tanto controlar quanto esticar, estender. Prana-ayama significa o controle da respiração, prana, por meio do qual ela se torna mais longa e sutil.

Existe a ideia, muito comum em certos círculos do yoga, de que a prática de pranayama só deve ser feita por praticantes avançados, que já dominaram completamente os asanas, porque no Yogasutra (a escritura fundamental sobre a prática de yoga) essa disciplina é classificada como algo a ser feito após o estabelecimento do asana. Mas o que significa estar estabelecido em asana?

Estar estabelecido em asana não significa ter o domínio de todos os asanas – fazer kapotasana, shirshasana, marichyasana, etc. –, mas estar estabelecido em uma experiência de estabilidade e conforto, que é a definição de asana. O único requisito que os sutras querem impor para a prática de pranayama é que ele seja feito uma vez que o praticante esteja estabelecido em uma postura estável e relaxada, com a coluna reta.

Uma vez cumprido esse requisito, os sutras falam que pranayama é a quebra ou separação (viccheda) do movimento (gati) de inalação e exalação (shvasa-prashvasa). Em uma respiração inconsciente ou automática, não há uma distinção clara das etapas da respiração. Os sutras falam em três etapas: inalação, exalação e pausa entre essas duas. A prática de pranayama significa delimitar tempos específicos para cada uma dessas etapas, de modo a tornar todo o processo da respiração deliberado. Uma prática de pranayama, então, pode ser inalar em 10 segundos, reter de pulmão cheios por 5 segundos, exalar em 15 segundos, e não fazer retenção de pulmão vazio, no final da exalação. Esse tipo de pranayama é transcrito tradicionalmente na forma: 10:5:15:0.

Tal prática visa aprofundar a experiência da respiração no sentido de deixa-la mais longa (dirgha) e suave, sutil (sukshma), como os sutras mesmos afirmam. Esse tipo de qualidade profunda da respiração é capaz de afetar a mente diretamente, diminuindo (kshiyate) o véu que encobre a lucidez (prakasha-avaranam). Ou seja, o pranayama elimina a agitação e o embotamento da mente (rajas e tamas) deixando-a clara (sattva), capacitada para o foco contemplativo (dharanasu yogyata).

No entanto, o resultado mental esperado de pranayama não acontecerá caso o praticante force a sua respiração de qualquer modo. Assim como o conceito de sukha, conforto, é fundamental para que a prática das posturas tenha o seu benefício, o conceito de sukshma, sutileza ou maciez, é fundamental para que o controle da respiração produza uma mente calma, clara e contemplativa. Essa maciez da respiração tem alguns sinais visíveis no praticante, para quem o vê de fora: sua feição está tranquila, sua respiração não faz barulho, e há uma uniformidade na respiração: como um fio de óleo que cai, a inalação e exalação têm um fluxo constante, sem interrupções ou espasmos. Para o próprio praticante que está fazendo o pranayama, o maior sinal de que ele está indo na direção correta é uma profunda sensação de interiorização e bem-estar. Acabado o pranayama, o praticante não tem vontade de sair logo da sua almofada, ao contrário; ele está pronto para ficar ali, consigo mesmo, contemplando algo.

A prática de pranayama é extremamente importante para o objetivo último do yoga, que é o conhecimento discriminativo entre o eu e o não-eu. Não é preciso “dominar” os vários asanas para começar a prática de pranayama; é necessário apenas ter uma mínima capacidade de controle respiratório e uma postura sentada confortável (mesmo que seja em uma cadeira) – coisas que, em geral, uma pessoa comum consegue com alguns meses de prática de posturas.

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